Analisando a Saga Crepúsculo

1 – Enredo.
Definir o desfecho de acontecimentos da saga crepúsculo é algo extremamente simples de se fazer. Uma garota humana, um vampiro, um lobisomem, um triângulo amoroso e... É, pára por aí mesmo! Não há nenhuma complexidade nos acontecimentos, nada que te faça refletir. A única reflexão que geralmente se encontra entre as fã da série é a de que: “Nossa, o Edward é realmente lindo!”
Como o enredo de um livro pode ser considerado bom se não há nenhum comentário, nem mesmo de fãs, que consiga achar profundidade nos acontecimentos narrados?

2 – Climax.
Um dos principais atrativos em um livro é seu climax. O climax é o principal responsável por te deixar prestando atenção no livro, ancioso pelo que vai acontecer. Nos livros da saga crepúsculo esse climax não é encontrado. Desde o primeiro livro você já sabe que no final tudo vai acabar bem, todos terão o seu final feliz, não haverá nada de realmente complexo para atrapalhar o andamento da história. O único climax com o qual a autora, Stephenie Meyer, se preocupou foi a atmosfera de romance. De fato, ela se ocupou tanto trabalhando com apenas esse ponto da estória que o romance toma proporções ao estilo “água com açúcar” absurdas, se tornando muitas vezes forçado.
Há alguns problemas na estória, como a vampira Victória e os Volturi, porém tudo é resolvido sem grandes problemas, quebrando assim todo o clima de ação e suspense que poderiam fazer parte da saga.

3 – Analisando quatro livros em poucas linhas.
Sem escrever o enredo dos quatro livros (até porque não se muda muita coisa), a história da saga inteira está ligada a estes pontos:
-> Bella ama Edward incondicionalmente, não existe vida sem Edward, ele é a única coisa importante.
-> Edward ama bela incondicionalmente, não existe existência (já que ele está morto, oi) sem Bella, ela é a única coisa importante.
-> Jacob é o melhor amigo de Bella e também se apaixona por ela. Além disso ele é um lobisomem.
-> Há alguns probleminhas entre os livros, como a vampira Victória, James, os Volturi... Mas não há nada, absolutamente nada que consiga atrapalhar a vida dos protagonistas de uma forma realmente ruim. Além disso, tudo é resolvido sem maiores problemas, os protagonistas nunca se lascam! Nada de amputações, nenhum olho cego, nenhuma perturbação psicológica. Aliás, até vemos Bella tendo perturbações psicológicas, mas estas estão sempre relacionadas com o fato de perder o centro do seu universo: O vampiro brilhante, Edward.

Logo, a maior parte do livro conta o cotidiano de Bella e Edward. Exaltando sempre o amor entre os dois e colocando a cada linha o quanto Bella não pode viver sem Edward.
Não haveria necessidade de se escrever quatro livros para relatar algo tão básico.

4 – Analisando os personagens

4.1 – Edward Cullen.
Edward representa o namorado perfeito, aquele que toda garota gostaria de ter (?). Ele se preocupa com Bella, a ama incondicionalmente, vivi em torno dela. Porém, há muito mais em Edward Cullen do que o cara perfeito, e analisando isso é possível perceber que toda essa perfeição na verdade se torna um imenso defeito.
“Como assim?!” É a pergunta que você está se fazendo? Elementar, minha cara...
Não existe ninguém sem algum defeito! Absolutamente ninguém! Dessa forma, Stephenie Meyer acabou idealizando o perfil de um ser robotizado, que não tem dúvidas, que não pensa duas vezes antes de dizer que quer passar o resto da eternidade com uma única garota... Edward acaba se tornando um robô programado para amar Bella Swan e, como um robô, não há nada que ele possa fazer para mudar isso.
O que vemos no romance dele com Bella é que na verdade não existe um namoro entre eles, é simplesmente uma obsessão. Eles se olham, se apaixonam, se tornam o núcleo de vida um do outro e acabou aí! Não houve uma série de acontecimentos que resultou no amor! Não houve aprendizado!
Um namoro se baseia em você conviver com alguém, amar essa pessoa e aprender a lidar e suportar os seus defeitos. Você aprende a suportar uma pessoa porque você a ama. Não vemos isso em Crepúsculo. Edward muitas vezes não passa de um tipo de guarda costas programado pra dizer: “Eu te amo” e fazer suas vontades.
É com esse tipo de homem que as mulheres sonham?!

4.2 – Isabella Swan.
Bella se descreve no livro como uma garota sem graça, que jamais chamaria a atenção de alguém. Logo, ela é a garota insegura que no fundo está louca para que alguém olhe para ela e diga o quanto ela é bonita. Aliás, esse é um dos motivos para 95% das adolescentes se identificarem com ela.
Bella apaixona-se subitamente por Edward (que por acaso é o cara mais bonito da escola) e logo acaba se tornando uma personagem totalmente submissa.
Bella não tem sonhos, não tem pretensões, Hobbes... É como se ela não precisasse ter vida, pois no fundo ela sempre soube que haveria um Edward para ela.
Então essa é a lição do livro? Você não precisa de nada! Absolutamente nada! Apenas viva esperando o seu grande amor e seja feliz pelo resto da sua vida!
Okay, Bella achou o amor da sua vida. Mas tudo o que ela faz na estória é ser submissa ao Edward. Não importa o que ela pensa ou sente, tudo está voltado para Edward e nada mais importa além disso. Toda sua vida se baseia única e exclusivamente em um cara sem defeitos que programou o seu cérebro para amá-la.
Nada nos é dito sobre o passado de Bella (isso porque o livro é no ponto de vista dela), as únicas coisas com as quais ela se preocupa em citar são as coisas que incluem o seu par romântico.
Engraçado, Isabella Swan não lembra um pouco aquelas garotas neuróticas que na maioria das vezes você chama de idiota por não fazer nada além de pensar no namorado? É, qualquer semelhança não é mera coincidência.

4.3 – Jacob Black.
Jacob é mais um cara lindo que aparece na história prontinho para amar Bella. A grande diferença é: Jacob tem defeitos, ahá! Ele sente raiva, sente ciúmes, é pretensioso... Por esses motivos acaba se tornando um dos poucos personagens (se não for o único) que não se torna robótico. Porém, é odiado pela maioria das fãs por tentar deixar Bella confusa. Jacob é mais uma prova de que as pessoas preferem sonhar com um guarda costas programado pra dizer “eu te amo”, do que conviver com a realidade de que ninguém é perfeito.

5 – Exaltação do fútil.
Um dos pontos presentes na saga é a quantidade absurda de adjetivos utilizados para descrever a personagem do Edward. Pele branca como porcelana, cabelos cor de bronze, belo como um anjo... Isso só mostra o quanto a saga é superficial, elevando a ideia de que a beleza física é altamente necessária pra que uma pessoa seja realmente perfeita. O físico de Edward é exaltado tantas vezes que fica difícil lembrar de alguma qualidade dele que não esteja baseada nisso.
Com Jacob não é diferente. A personagem, ao se transformar em lobisomem, fica com um físico musculoso digno de capa de revista. Vemos mais uma vez a beleza estética sendo exaltada como uma qualidade extremamente importante.
Até mesmo com Bella, a personagem que se alto descreve como alguém sem graça, isso acontece. Edward diz que todos os garotos da escola viram Bella e a acharam extremamente atraente. A exaltação estética de Bella fica mais evidente ainda em Amanhecer (quarto e último livro da saga), quando ela se torna uma das mais belas vampiras já vistas.
A saga Crepúsculo gira muito mais em torno dos atributos físicos dos personagens do que dos atributos psicológicos.
Há também a exaltação dos bens materiais. A família de Edward é extremamente rica! Sendo que um dos objetos mais citados nos livros são os diversos carros luxuosos que os membros da família possuem.
Agora juntemos tudo: Dinheiro, beleza estética, carros luxuosos... Claro, é a coisa mais comum do universo! E nada fútil!

6 – Conceitos ideológicos antigos.
É muito fácil perceber traços de pensamentos e ideias antigas, vamos ressaltar estas:
-> Edward tem mais de 100 anos, porém é virgem e só aceita ter relações sexuais com Bella após o casamento.
-> Bella por sua vez também é virgem, casando-se pura e casta.

Neste caso a ideia da virgindade até o casamento depende única e exclusivamente de uma questão de escolha. Há muitas pessoas que fazem a promessa de só perderem a virgindade após o casamento, porém esse ideia geralmente está ligada à algum dogma religioso ou filosófico, algo que não ocorre em Crepúsculo.
É difícil acreditar que alguém com mais de 100 anos nunca tenha se relacionado com ninguém. Edward não conserva a castidade dentro de ideias filosóficas ou conceitos dogmáticos, ele apenas aparenta nunca ter tido interesse nenhum em sexo. Isso prova que Edward era assexuado e ponto.
Já Bella não aparenta ser assexuada, já que em Eclipse ela tenta ter relações com Edward. Mas é mantida a ideia de que a mulher deve casar-se pura pra seu marido. Edward recrimina Bella, dizendo que ele pode não se controlar e matá-la, tendo em vista que ele é milhões de vezes mais forte do que ela e poderia esmagá-la com movimentos bruscos. No entanto, essa foi apenas a desculpa que a autora achou para justificar o fato de que a Bella virgem é simplesmente mais uma idealização fútil contida em Crepúsculo. Na visão de Meyer, uma mulher decente é aquela que é bonita e se guarda única e exclusivamente para o seu marido. O sexo não é tratado como um ato de demonstração de amor, mas sim como uma coisa que você se compromete a fazer após o casamento.
Em “Romeu e Julieta”, o casal principal tem sua primeira relação sem serem casados (até porque eles morrem na estória e nunca se casam). Agora vem a pergunta: Alguém achou Julieta uma impura (pra não dizer outra coisa) por isso?!
Mais uma vez Meyer colocou seus próprios pontos de vista dentro dos personagens. No fundo todos os personagens fazem o que Meyer acha correto, e não o que eles querem. Os personagens não têm vida na saga, são apenas marionetes controladas pela autora.

7 – Personagens secundários.
Uma das características mais marcantes dos personagens secundários como um todo é o fato de que não faria diferença no livro se eles não existissem.
Edward e Bella pouco se importam com os sentimentos das pessoas próximas a eles, eles apenas querem ficar pelo resto da eternidade juntos custe o que custar.
Os personagens secundários giram em torno do casal principal, toda a sua vida no presente ou até mesmo o seu passado está relacionado a algum ponto da história dos protagonistas, assim eles se tornam nada mais do que figurantes que existem só para facilitar a vida de Ed e Bella.
Quer exemplo?
Para quê serve o passado de Rosalie? Ele é usado para explicar o motivo que leva Rosalie a não gostar de Bella.
Para quê serve o passado de Jasper? Para achar uma forma de matar os vampiros recém nascidos em Eclipse e, consequentemente, salvar Bella.
O dom de Alice? É sempre usado para ajudar o casal, principalmente a Bella.

8 – “Óh, e agora? Quem poderá me defender?!”
Por mais que Stephenie Meyer tente mostrar Bella como uma garota forte que tenta sair das situações sozinha, a tentativa é completamente frustrada. Bella SEMPRE precisa ser salva por Edward ou Jacob. Ela jamais saiu de qualquer situação sozinha no decorrer dos quatro livros. Isso torna a personagem de Bella a fragilidade personificada! Deixando nítida a visão de que uma mulher sempre vai precisar de um homem para mantê-la com uma vida estável. Tal argumento deixa qualquer garota que tenha o mínimo de valores feministas p*** da vida!
Quer dizer que eu preciso de um homem para me manter viva, saudável, rica e feliz? Não!
Sabe o motivo de Bella não ter o mínimo de auto suficiência? Simples: Ela é uma garota doente, dependente e obsessiva que não vê nada além do seu amor.
Me desculpem, fãs da saga, mas eu prefiro ser uma garota normal. Sai daqui neura!

9 – O cúmulo dos sonhos de Stephenie Meyer : Renésme
Renésme é a filha de Edward e Bella que nasce no livro “Amanhecer”, após o casal finalmente juntar os trapinhos.
Renésme é uma super bebê, metade humana e metade vampira. Ela é super inteligente desde recém nascida e cresce extremamente rápido. Renésme também possui um raro poder: Consegue transmitir seus pensamentos para a mente de qualquer pessoa a partir de um simples toque de mão, o que a torna uma espécie de super bebê falante. Agora o que é engraçado é que as descrições de Renésme são tão rasas que até hoje não conheci ninguém que conseguisse imaginá-la. O máximo que eu já consegui foi imaginar um bebê falante no estilo daqueles filmes de sessão da tarde “Olha quem está falando!”.
Em um livro a descrição de um personagem deve ser perfeita, pois o leitor precisa imaginar tal personagem. E não, Stephenie Meyer, apenas descrever o quanto os personagens são bonitos não é, nem de longe, sinônimo de uma boa descrição.
Renésme foi o cúmulo dos sonhos fantásticos de Stephenie Meyer e foi a melhor demonstração de que ela não sabe criar seres fantásticos nos quais você acredite e consiga imaginar.

10 – Considerações finais.
Qualquer pessoa sensata perceberia que a quantidade de erros na Saga Crepúsculo é extremamente grande, variando entre contradições, falta de climax, enredo e valores que na verdade não existem.
Cabe a cada pessoa ter um senso crítico apurado para perceber tais erros que podem ser considerados gravíssimos na concepção de um livro.
Essa é apenas minha opinião, não me matem por isso, sou jovem demais para morrer!

Sem mais.